Viagem a Turim, Itália - Voal Fotografia

Era alto verão quando desembarcamos em Turim. Vínhamos de uma semana revigorante entre caminhadas nos alpes e mergulhos em lagos e rios entre o sul da França e a Suíça. Saímos de Genebra via Blá Blá Car, um aplicativo de caronas que deixou tudo mais fácil e rápido. A viagem, de aproximadamente 04 horas, passa pelo maior túnel da Europa, que corta por baixo – por uma hora de carro – o Mont Blanc e desemboca no norte da Itália.

Lembro de olhar pela janela em busca de algo que me desse a noção de que estava na Itália. Sou apaixonado pela contemplação da paisagem e sempre busco pistas sobre o lugar dentro desse pergaminho de mil camadas, que é a paisagem. Do carro, era só quebrar o pescoço para ver uma igrejinha com aspecto medieval incrustada numa colina, uma pequena Vila de Pedra rodeada por campos de agricultura familiar, e, se aproximando de Turim, chaminés, trânsito pesado, um sol vermelho e escaldante de verão – que só sentimos de verdade quando saímos do ar condicionado do carro quando descemos da carona nos arredores de Turim, em uma estação de metrô, onde encontraríamos a Paula, responsável por essa nossa aventura.

O sol já se escondia e fazia um calor insano enquanto esperávamos nossa anfitriã (confira aqui o ensaio deles). Sentimos ali o ritmo frenético do lugar e uma das suas tantas faces.  Encontramos com a Paula que nos levou para o apartamento que ficava a 15 minutos a pé do centro de de Turim. Ô sorte: caminhávamos todos dias pelas suas ruas e nos perdíamos entre as compras de supermercados, café em bares, idas ao centro histórico.

Turim foge dos principais roteiros turísticos de quem vai pras bandas de lá, e isso torna o lugar ainda mais atraente e real, cidade perfeita para flanar e ver de perto as peculiaridades, além de passear tranquilamente por suas praças e ruas. Torino não é uma Disneylândia a ser consumida gratuitamente pelos olhos e é ideal pra quem quer sentir a história em detalhes escondidos, que passam despercebidos para os menos atentos.

 

Localizada na região de Piemonte, a culinária da Torino é bem diferente das famosas massa e pizzas do sul da Itália. A cidade é o berço da conceito de slow food e foi uma das primeiras a proibir o uso de transgênicos. Toda noite, saímos para comer e o aperol fazia parte da rotina. Essa região também é a terra das trufas e dos pés de avelã que deram origem ao famoso Ferrero Rocher: toda manhã o dia começava com um folhado recheado de gianduia.

 

Andar por Turim foi dar de cara com um fosso que divide a Europa em muitas: de um lado a beleza de seus palácios, pátios, jardins e fontes. A famosa e imponente Mole Antoneliana. De um mirante pudemos contemplar a mesma paisagem vista por meu avô Pedro, 72 anos antes, quando ele ali esteve ao fim da segunda Guerra Mundial. Às vezes tínhamos uma sensação estranha, que acho que só nos arremete nesses lugares onde a história sussurra.

 

Bastava entrar em suas artérias, circular pela vivacidade dos seus mercados, para perceber os conflitos territoriais resultado da onda de imigrações, que sempre forjou a história humana, mas que foi marcante nessa segunda década do século XXI. A beleza da mistura de lugares e pessoas é deleite que nos faz refletir sobre o potencial e a miséria humana que nunca estará em equilíbrio enquanto não andarmos em conjunto.
Entre passeios em manhãs vazias e noites agradáveis, passamos ali uma semana inesquecível. Turim foi nossa porta de entrada para a Itália e seremos eternamente gratos aos nossos anfitriões pela oportunidade de conhecer tão distinto lugar. Ficaremos com as imagens dos papos unilaterais com as senhoras nas ruas, meninos africanos num balé espelhado pelo palazzo da rainha, o contraste entre um paliteiro construído por Mussolini e os edifícios que ali estão desde a alta idade média.

 

A dificuldade em descreve-la é o estimulo maior pra voltar.

 

Turim é uma cidade que por si só é indecifrável.

 

Turim, agosto de 2017.

 

 

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